delineado gatinho #3 - Aniversário, nostalgia e o rock continua vivo
Domingo, eleição, calor de 40ºC…
*latinha de cerveja sendo aberta plays in the background*
Dia 20 de setembro foi o meu aniversário e eu achei que esse ano, graças ao escitalopram, não sofreria com a depressão que sempre me abate nas semanas anteriores ao meu aniversário. Eu estava enganada. Para mim, iniciar mais um ano na Terra é um momento em que as expectativas e as frustrações sempre aparecem. “Achei que minha vida estaria diferente” ou “não consegui realizar nada do que planejei” são pensamentos que, mesmo não sendo 100% verdadeiros, tomam conta da minha cabeça em todo mês de setembro, mais do que no Ano Novo. Além disso, a depressão de aniversário traz com ela aquela nostalgia, aquela tentação de olhar para o passado e procurar momentos melhores.
A nostalgia é uma armadilha terrível. A nostalgia me faz olhar para um período da minha vida em que eu estava presa em um relacionamento abusivo, mas que, poxa, eu morava em outra cidade, fazia faculdade, era tudo tão legal, pena que não dá para voltar. Não era tudo legal e eu não quero voltar para a vida que eu tinha antes. É preciso olhar com carinho para os momentos bons, mas sem cair na armadilha do regresso. Essa idealização de um passado nos cega para o que estamos contruindo no presente e para o que queremos no futuro, ela nos cega para as mudanças positivas e para abraçar quem estamos nos tornando. Permanecer no mesmo lugar - ou sonhar com um passado idealizado - não está nos meus objetivos.
O regresso é um movimento conservador que, quando transborda o nível das lembranças pessoais e atinge um nível macro da história da humanidade, pode causar muitos estragos políticos, sociais e culturais. O fenômeno da nostalgia tem crescido nos últimos como um nicho de mercado muito lucrativo. Filmes e séries que apelam para a nostalgia sempre conquistam um público fiel e emocionado que, dependendo da idade, ou gostaria de voltar para aquele período, ou gostaria de ter vivido aquele período. Eu amo me inspirar nos estilos dos anos 40 e 50 para me vestir, amo filmes e músicas de diferentes décadas, mas sem a idolatria de um suposto período melhor de se viver, sempre focada no presente e no futuro porque o passado é um local de referência, não um local a ser reproduzido acriticamente.
“Na minha época que era bom”, bradam aos ventos os tiozões do rock n’ roll que não conseguem ouvir outra coisa além de Led Zeppelin e Deep Purple. A rejeição à modernidade é sempre um elemento presente nos discursos fascistas, mas que passam de maneira discreta quase todas as vezes, por isso a nostalgia é uma ótima arma política da extrema-direita. Barbara, você está louca, querida, o que tem a ver o tiozão que ouve Deep Purple com o fascismo? O discurso de que naquela época as coisas eram melhores nunca aparece sozinho, ele vem acompanhado de coisas do tipo: “naquela época as mulheres se davam ao respeito”, “naquela época não tinha tanto gay”, “hoje em dia não pode mais fazer piada porque tudo é racismo” etc. A modernidade é politicamente correta. A arte produzida atualmente é degenerada.
Uma das bandas que eu mais tenho ouvido esse ano e que foi uma descoberta maravilhosa é Pinkshift, uma banda punk de Baltimore que surgiu em 2018. Com uma pessoa não-binária no vocal, a banda toca contra a opressão e o preconceito, desabafando de forma visceral sobre sua juventude, sua raiva e seu coração. Só afirma que o rock já morreu quem não quer ver e ouvir mulheres, negros e pessoas LGBTQIA+ ocupando os seus espaços nesse meio onde membros de motoclube idolatram homens que usavam maquiagem e botas de salto alto no anos 80, mas uma banda atual composta por gays, mulheres ou negros é lacração. Pensando bem, talvez devêssemos matar o rock mesmo, dilacerar esse seu corpo branco, cis, heterossexual e preconceituoso.
Em tempos que se prega o fim da história e a volta para o passado, imaginar, sonhar e lutar por um futuro melhor é um ato revolucionário.
Fiscalização Letterboxd
Essa semana assisti a dois filmes do Brian De Palma, Sisters e Obsession, e fiquei ainda mais admirada pelo trabalho dele. Rozbijemy zabawę, em inglês Break Up the Dance, é um filme de 1957 dirigido por Polanski quando ele ainda era estudante de cinema. Por último, meu primeiro contato com o diretor Jean Rollin: Perdues dans New York, um conto de fadas belíssimo que me deixou animada pela mergulhar na filmografia dele.
Ainda não respondi a todas as mensagens de felicitações, mas agradeço imensamente quem tirou um tempinho para me desejar coisas boas ❤️
PALESTINA LIVRE! 🇵🇸